15 de ago. de 2013

15 de Agosto


O vazio de emoções faz-me olhar de uma ponta à outra do espaço - de uma porta à outra, de um interruptor ao outro, de um suspiro ao tédio… e tudo pelo meio é um excesso desnecessário onde me encontro a perfilar magias.

Os cães ladram a nada como a pôr o sentido deles às coisas; um helicóptero dos incêndios atravessa a coroa de eu estar pensando em sons para apagar um fogo algures; O mundo arde com ginásios de gente a suar para emagrecer, mas nada é tão castrador ao espírito como a lengalenga das procissões. Cantos de Maio em Agosto desmaio…

Toca o sino amiúde e sobem ao céu foguetes a arder mais na tarde, já de si cansada e febril. Os miúdos passam a ferro o vinco nas mangas dos pais por uma pistola de fulminantes, rasgando-lhes a determinação ante o depor aos pés da virgem santa um ramo de flores. Coitada! - bem lhe compreendo a expressão! - fustigada em Agosto por choramingas e sobre isso um calor de velas…

Os miúdos quedam-se de braços caídos a olhar para cima os pais e ficam tristes também porque eles choram em silêncio. E só depois o algodão doce, o bailarico proporcionado pelo teclista em cima da camioneta; os adultos dançando com solenidade uma inenarrável brejeirice à porta da igreja; o padre novo esgaravatando as golas da batina com um esgar enérgico de calor entre os sorrisos; o padre antigo, postado ao sol com a sobranceria de uma coluna dórica, esquecido para a agressividade dos elementos, fulminando com o olhar… ora desaprovando o refustedo nas palavras do teclista, ora a pôr freio no rebanho tresmalhado. Ambos tão desvirtuando os ensinamentos de Cristo como ofendendo a Deus, nosso senhor…

E as crianças também, - diabólicas! – correndo à frente da igreja, fintando o bulício e a apanhar coisas do chão como andorinhas a catar primaveras, inocentes de benzedura...





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