14 de jan. de 2015

Esgrimista que ataca e nunca defende


Existe uma palavra com espinhos por dentro,
uma palavra feita de glaciares e tremores de terra
que abalam todos os nossos fundamentos viscerais.

Existe uma palavra que evitamos sempre dizer.
Usamos os mais belos eufemismos para lhe retirar o ímpeto
e dessa forma sonhar ainda uma borboleta
que nos traga o perfume raro de outros dias.

Existe uma palavra que por ser definitiva adiamos sempre,
formulamos com os lábios todas as razões poéticas
e descartamos a lógica classicamente arquitectada.

Existe uma palavra que não quero utilizar agora
nestes versos trémulos, mas que por isso lhe são propícios.
Adeus, eis a palavra, portadora de um veneno secreto
- uma sirene estridente, um ataque à bomba, cidades de esperança desfeitas,

mas lembra-te, existem sempre palavras que sobrevivem
e, essas, tens de as procurar,
tens de as curar da infecção do entorpecimento do teu ser.

Depois de dizeres Adeus, essa palavra esgrimista
que ataca e nunca defende,
serás finalmente capaz de perceber todo o peso da liberdade.

Serão, nesse momento, muitos os lugares para onde podes ir
e poucos aqueles onde sentes que podes ficar.
Mas continua sempre e não olhes tanto para trás,
porque a vida é uma viagem
onde só te é permitido parar para mijar o desencanto.