22 de abr. de 2013

vamos devolver a máquina


tantas foram as fotografias que tirámos com esta máquina
e, agora, algumas, já não as lembramos: tempo a morrer.
outras quisemos esquecer e não executamos o movimento.  

existe uma imagem mais alta do que os telhados,
um ruído que se desprende dos outros e nos toca;
existem sinais por todo o lado, não pretendo olhar,
não olhes também. tenta dormir, sim, tenta dormir.
ensinaram-nos a contar as horas, a ferver a água,
a saltar e a olhar o céu. apontámos a um só avião
e vimo-lo sem querer. talvez nos fosse inevitável.

- dizem que não nos vê lá de cima…

dizem tanta coisa. há quem afirme o nosso sono,
a nossa cegueira, a nossa sorrateira existência.
dizem tanta coisa. por experiência, fugimos,
sabemos não ouvir. mas existe uma imagem,
ela paira sobre os telhados, sobre o nosso sonho.

um gigante de promessas em ferrugem, um rosto,
que se assemelha àquele que tivemos um dia.
se ele nos falasse, creio, não seria razão de receio,
mas ele não se distrai, o seu tempo é outro. agora
somos somente sombras com dores abstractas.
ai!...
mas disseram-me que ele não nos vê lá de cima…

incapazes de destruir o gigante moribundo,
que já só anseia por morrer numa rua qualquer,
escondida das nossas coordenadas, vamos mentindo,
tentamos formatar os risos de outrora, mas o mundo…

o gigante a contorcer-se e assumir-se brinquedo;
o passado a sorrir-nos e dizer-nos que é tarde.
ele tombará sobre o nosso enredo, não há saída.
vamos devolvê-la, agora, antes que se estrague.

a máquina tem de sobreviver, porque a vida…

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